Após cinco décadas de política, malufismo sai de cena sem deixar herdeiros
“Você sabe o que significa a sigla PMDB? Paulo Maluf dirigirá o Brasil.” A frase foi dita pelo próprio Paulo Maluf, em 1984, após sair vitorioso da convenção do seu partido, o PDS, para disputar as eleições presidenciais, no ano seguinte.
Maluf perdeu a eleição no Colégio Eleitoral para Tancredo Neves, candidato do PMDB, e nunca dirigiu o Brasil.
Disputou 16 eleições, entre diretas e indiretas, das quais perdeu dez e ganhou seis. Nos tempos áureos, foi o deputado federal campeão de votos no país e um prefeito com altos índices de popularidade, mas deixou o cenário político após ter sido preso, em 2017, e, no ano seguinte, ter o mandato de deputado federal cassado.
Com tantos reveses, o malufismo ― corrente política em torno de Maluf durante mais de cinco décadas ―, está praticamente extinto por falta de sucessores e por causa da controversa carreira do seu criador, recheada de acusações de improbidade administrativa e um discurso conservador em relação à pauta de costumes.
Isso leva à comparação com outro movimento político personalista conservador de direita: o bolsonarismo, capitaneado pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Não há propriamente um paralelo entre as duas correntes [bolsonarismo e malufismo], mas uma ancestralidade comum”, diz o cientista político Antonio Sérgio Rocha, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo ele, tanto no malufismo, como no bolsonarismo, predomina a manipulação do medo da classe média ― do empobrecimento, da esquerda no poder e da perda de status social com a ascensão de gente das classes C e D ―, além do uso de uma moral socialmente conservadora.
Opinião semelhante tem a cientista política Deysi Cioccari, que é doutora em ciências sociais pela PUC-SP.
“São políticas caracterizadas pela emoção. O carisma de Bolsonaro foi um dos maiores fatores para a sua eleição em 2018 e pela faixa de 25% dos eleitores que ele mantém no apoio. Bolsonaro não tem nenhuma realização que justifique essa média, a não ser a emoção daqueles que se identificam com ele. Com o malufismo, é o mesmo princípio”, diz.
Aliados do ex-prefeito rejeitam a comparação com Bolsonaro, mesmo em pautas como a segurança.
Maluf sempre defendeu que a população tem de ser protegida por uma segurança pública eficiente, mas não que a população esteja armadaJesse Ribeiro, ex-chefe de gabinete de Maluf na Câmara dos Deputados e um dos seus fiéis escudeiros há mais de 40 anos
Lembrando o lema de Maluf no governo de São Paulo em relação à segurança ― “A Rota (polícia de elite de São Paulo) tem de ir para a rua” ― Ribeiro destaca outros contrapontos com Bolsonaro, como a histórica capacidade de articulação política de Maluf (inclusive com o PT, com o apoio a Fernando Haddad no segundo turno para a eleição do petista à prefeitura, em 2012) e o respeito às instituições, como o Judiciário, mesmo tendo sido condenado e preso a mando do Supremo Tribunal Federal (STF).
Após décadas se movimentando como peça importante no cenário político paulista e nacional, prestes a completar 91 anos e com a saúde debilitada, as vitórias mais recentes do nonagenário político foram contra a Covid-19, que o levou a ser hospitalizado, e a liberdade condicional concedida pelo ministro Edson Fachin, do STF.
Maluf foi condenado pelo Supremo em ação penal por crime de lavagem de dinheiro, que teria sido desviado de obras da Prefeitura de São Paulo durante o período em que foi prefeito, entre 1993 e 1996.
Para alguém que se orgulhava das constantes viagens ao exterior, principalmente Paris, Maluf, que hoje em dia se locomove apenas em cadeira de rodas, apresenta sonhos mais modestos, segundo interlocutores: passar uma temporada na sua casa em Campos de Jordão (SP), na Serra da Mantiqueira.
Fonte: CNN Brasil