Copa no Catar: ONGs e embaixadas denunciam mortes suspeitas e exploração de trabalhadores
A Copa do Mundo da Fifa, que nesta edição será sediada pelo Catar, terá o ponta pé inicial no próximo dia 21 de novembro, com a partida entre Senegal e Países Baixos. A exatos quatro meses da abertura de um dos maiores eventos esportivos, ONGs e embaixadas de países mundo afora questionam as milhares de mortes de trabalhadores envolvidos em obras para o mundial.
Segundo levantamento do jornal britânico The Guardian, pelo menos 6.500 homens perderam a vida entre 2011 e 2020 em construções idealizadas para a Copa do Mundo. Todos estes trabalhadores são imigrantes, em sua maioria de países da Ásia, como Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão e Sri Lanka.
A Copa do Mundo da Fifa, que nesta edição será sediada pelo Catar, terá o ponta pé inicial no próximo dia 21 de novembro, com a partida entre Senegal e Países Baixos. A exatos quatro meses da abertura de um dos maiores eventos esportivos, ONGs e embaixadas de países mundo afora questionam as milhares de mortes de trabalhadores envolvidos em obras para o mundial.
Segundo levantamento do jornal britânico The Guardian, pelo menos 6.500 homens perderam a vida entre 2011 e 2020 em construções idealizadas para a Copa do Mundo. Todos estes trabalhadores são imigrantes, em sua maioria de países da Ásia, como Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão e Sri Lanka.
Grande parte das vezes, não foi feita uma autópsia nos corpos dos migrantes mortos, algo considerado necessário por ONGs internacionais. Segundo documento In the Prime of Their Lives, divulgado pela Anistia Internacional, o governo do Catar rotineiramente emite atestados de óbito de trabalhadores com nenhuma indicação sobre a causa da morte ou com informações vagas, como “causa natural” ou “falha cardíaca”.
Atestado de óbito indica que trabalhador de 34 anos morreu de causa natural
ANISTIA INTERNACIONAL
Em sua maioria, os homens contratados para trabalhar no Catar têm por volta de 30 anos. A faixa etária desses trabalhadores não é considerada um fator de risco para doenças cardíacas e, portanto, há uma possível divergência com as razões das mortes que constam em documentos oficiais.
Segundo a Anistia Internacional, “essas certificações — descritas por um importante patologista como ‘sem sentido’ — descartam a possibilidade de indenização para famílias enlutadas, muitas das quais já enfrentam dificuldades financeiras após perderem seu principal sustento”
Quando homens relativamente jovens e saudáveis morrem de repente após longas horas de trabalho no calor extremo, isto levanta sérias questões sobre as condições de segurança de trabalho no Catar
STEVE COCKBURN, À ANISTIA INTERNACIONAL
O professor de relações internacionais da PUC-MG Vinicius Tavares disse, em entrevista ao R7, que o número de trabalhadores migrantes mortos pode ultrapassar a marca de 6.500 e destaca a dificuldade de órgãos independentes em confirmar estes óbitos.
“É muito difícil apurar esse número corretamente. Tenho a tendência a dizer que a situação é pior. É óbvio que o Catar vai querer dizer que o número é menor do que os dados oficiais estão apresentando. As ONGs e as embaixadas, por sua vez, não vão contabilizar as informações que elas não têm certeza. Há uma escassez de informações”, afirma Tavares.
Na opinião do professor, os trabalhadores do Catar sofrem com as leis trabalhistas pouco rígidas, se comparada às normas de países ocidentais. A situação dos estrangeiros é ainda pior, já que por estarem longe dos países de origem, sofrem uma exploração sem ter a quem recorrer.
“O Catar estaria aproveitando que essas pessoas estão distantes do seu país para explorar essa mão de obra com certeza”, comenta o professor da PUC-MG. “Não é só estar longe do país, mas você tem uma situação onde as legislações trabalhistas são deficitárias, débeis, fracas.”
A kafala e os estrangeiros no Catar
Kafala facilita a exploração de trabalhadores, segundo ONGs
ANISTIA INTERNACIONAL
Em dezembro de 2010, quando a Fifa anunciou o Catar como sede da Copa do Mundo de 2022, 1,8 milhão de pessoas moravam no país do Oriente Médio. Dez anos depois, a população do paraíso petrolífero aumentou mais do que 50%, alcançando os 2,8 milhões de habitantes.
Destas pessoas que viviam no Catar em 2020, 82% (2,3 milhões de pessoas) eram estrangeiras, segundo o Ministério de Planejamento e Estatística do Desenvolvimento do país.
A chegada de trabalhadores estrangeiros no Catar é facilitada pelo sistema kafala, tradicional nos países do Oriente Médio, e classificado pela ONG Human Rights Watch como “o coração do problema dos trabalhadores migrantes”.
A kafala consiste, basicamente, em atrelar o visto de um trabalhador estrangeiro ao seu empregador, impedindo, entre outras coisas, a mudança de emprego. Esta relação cria uma grande dependência de uma das partes, muitas vezes explorada pelas empresas.
Além disso, há a cobrança de taxas para o recrutamento de estrangeiros — que ultrapassam os US$ 2.000, cerca de R$ 11 mil —, a retenção de passaportes e a distorção das funções ligadas ao trabalho, que são descobertas somente após desembarcar no Catar.
Fonte: R7