Rússia e Ucrânia anunciam novas conversas e Macron alerta contra “escalada”
Negociadores ucranianos e russos farão uma nova rodada de conversas cara a cara na próxima semana – anunciou Kiev, neste domingo, em uma nova tentativa de pôr fim à invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Segundo a ONU, pelo menos 1.100 civis morreram no conflito deflagrado em 24 de fevereiro. A parte ucraniana disse que as negociações começam nesta segunda-feira na Turquia, enquanto o principal negociador da Rússia estabeleceu a retomada do diálogo para terça-feira, sem confirmar o local.
Nos últimos dias, aumentaram os temores de um agravamento dos combates, especialmente depois que o presidente americano, Joe Biden, em visita à Polônia, descreveu Vladimir Putin como um “açougueiro” e defendeu que “ele não pode permanecer no poder”. Embora a Casa Branca tenha, imediatamente, tentado suavizar suas palavras, esclarecendo que Washington não busca uma mudança de regime, o Kremlin reagiu duramente. Segundo seu porta-voz, Dmitri Peskov, os ataques pessoais estão “reduzindo a janela de oportunidade” para as relações bilaterais.
As rodadas de esforços diplomáticos e as sanções esmagadoras impostas pelos aliados ocidentais foram insuficientes, até agora, para conseguir fazer Putin parar sua guerra, à qual o papa Francisco se referiu como “cruel e sem sentido”. O presidente francês, Emmanuel Macron, alertou neste domingo contra uma “escalada de palavras, ou de ações”, na Ucrânia, uma abordagem que pode dificultar o fim da guerra.
Dividida como as Coreias
O Exército russo, que estaria, segundo analistas ocidentais, atolado em problemas táticos, de comunicação e logísticos, sugeriu na última sexta-feira que se concentraria na região leste da Ucrânia a partir de agora.
O chefe da Inteligência ucraniana, Kyrylo Budanov, acredita que Putin possa estar considerando um cenário “coreano” para o país, buscando “impor uma linha de separação entre as regiões ocupadas e as não ocupadas do nosso país”. “Depois de não conseguir capturar Kiev e de derrubar o governo da Ucrânia, Putin está mudando suas principais diretrizes operacionais”, escreveu Budanov no Facebook, referindo-se a “uma tentativa de estabelecer (um modelo como) a Coreia do Sul e a Coreia do Norte na Ucrânia”.
Hoje, Moscou mantém o controle, de facto, sobre as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk na região leste de Donbass. Neste domingo, o líder da região separatista ucraniana de Lugansk disse que poderá organizar um referendo para decidir se o território passará a fazer parte da Rússia. A proposta foi imediatamente criticada por Kiev como uma tentativa, por parte de Moscou, de minar a soberania e a integridade territorial do país.
Enquanto isso, as tropas russas continuam a bombardear a cidade portuária de Mariupol. Controlá-la permitiria a Moscou conectar suas forças na península ocupada da Crimeia com as tropas separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia. E, neste domingo, novos corredores humanitários foram abertos para permitir a retirada de civis deste estratégico porto às margens do Mar de Azov, onde mais de 2.000 civis já morreram, segundo a prefeitura.
Já as tentativas de estabelecer rotas seguras para a fuga de cerca de 170.000 civis presos na cidade fracassaram até o momento, e ambos os lados do conflito se acusam mutuamente de violar qualquer cessar-fogo temporário.
Fonte: Correio do Povo